Seja nas redes sociais ou na TV, nunca se falou tanto sobre acessibilidade como nos dias de hoje, mas como de fato viabilizar a acessibilidade?
Seria apenas instalar corrimãos e rampas de acesso? Qual é a responsabilidade da construção civil dentro desse assunto?
No artigo abaixo conversamos mais sobre este assunto tão importante. Boa Leitura!
O cenário atual, considerado normal em uma cidade grande, é uma vastidão de escadas, portas estreitas, calçadas e elevadores inadequados, correto?
Contudo, esse mesmo cenário, essa mesma cena, esse mesmo contexto exclui 1 pessoa com deficiência, em cada 14 brasileiros.
Segundo os dados fornecidos pelo Censo 2010, cerca de 24% da população brasileira declararam ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus),
Isso representa quase 46 milhões de brasileiros necessitando de apoios para conseguir ter o direito humano básico de ir e vir, com autonomia e independência.
Em paralelo a esta realidade, nos últimos anos, nota-se uma crescente preocupação com as questões de acessibilidade de pessoas idosas nos espaços – sejam eles públicos ou não.
Porém, estes números não param por aí.
A expectativa para os próximos 37 anos é que a população brasileira apresente mais idosos do que jovens, mais precisamente, o triplo do número de pessoas com 65 anos que hoje, chegando a 58,2 milhões em 2060 – o equivalente a 25,5% da população.
Podemos perceber então a urgência em promover acessibilidade para esses públicos que só tendem a crescer, afinal negligenciá-la é ferir o direito humano de ir e vir.
Ela deve estar cada vez mais presente na agenda dos gestores, síndicos e gestores prediais como um todo.
Mas, o que de fato é a tal da A-CE-SSI-BI-LI-DA-DE?
Será que a acessibilidade envolve apenas rampas e corrimãos?
Acessibilidade é a possibilidade de acessar um lugar, serviço, produto ou informação de maneira autônoma, sem nenhum tipo de barreira, beneficiando todas as pessoas, com ou sem deficiência, e em todas as fases da vida.
Em resumo, é oferecer oportunidades iguais de acesso a todos os recursos da sociedade.
Lógico que para isso acontecer é necessária a remoção de barreiras físicas, tecnológicas e de comunicação, que possam impedir ou dificultar o acesso a esses espaços.
IMPORTANTE SABER!
Para você ter ideia, os requisitos e exigências das leis e normas técnicas de acessibilidade estão estruturados a partir destes três pilares.
De preferência, fazer tudo sozinho.
Baixo esforço físico.
Evitar acidentes.
Sendo assim, para garantir a acessibilidade na edificação, NÃO podemos utilizar equipamentos que não deem AUTONOMIA para a pessoa.
As pessoas devem conseguir acessar os ambientes SOZINHAS, sem ajuda.
Como você viu acima, há leis e regulamentos que exigem a acessibilidade na Construção Civil.
A principal norma é a NBR 9050 conhecida por trazer critérios e parâmetros para instalação de equipamentos e adaptação de espaços de forma que o ambiente se torne acessível para todos os públicos.
Esta norma vai muito mais fundo no quesito de acessibilidade. Para se ter uma ideia, ela tem o objetivo de proporcionar mais conforto, segurança e dignidade para:
A norma precisou passar por uma revisão e atualização em 2020, incorporando as mudanças feitas em 2015.
As principais mudanças se referem a busca de um “desenho universal para acessibilidade”, ou seja, definir padrões que se apliquem nos mais diversos empreendimentos e, assim, garantir os direitos e a cidadania de todos os brasileiros.
Seria possível fazer outro post falando apenas sobre a NBR 9050!
Ela ainda traz recomendações/direções sobre como construir, e também reformar, edificações acessíveis com ênfase em pontos como:
Os critérios são voltados para regras destinadas ao espaço material, ao transporte, à informação e também às instalações e serviços de uso público, como prédios e apartamentos, por exemplo.
Portanto, há regras e leis para se construir com segurança e garantir o acesso para todos.
“Mas, se não recebo pessoas com deficiência em minha loja, por que meu negócio deve ter acessibilidade?”
“Mas eu não recebo Pessoas com Deficiência em minha loja?”
“Quando chega uma Pessoa com Deficiência, eu atendo ela no térreo!”
“Nenhuma Pessoa com Deficiência trabalha aqui na empresa!”
Talvez as afirmações acima façam parte do seu cotidiano – ou simplesmente passaram pela sua mente- afinal, porque garantir a acessibilidade se eu não atendo este público?
LIGUE O ALERTA!
Precisamos te alertar que é completamente errôneo pensar desta maneira, por mais comum que seja!
Pois, ao fazer isso, você está impedindo que pessoas com deficiência cheguem até seu estabelecimento ou consumam seu serviço – É como se tivesse uma placa invisível dizendo: “não entre.”
Além de perder a possibilidade de atender estas pessoas, é importante saber que a acessibilidade não se refere a apenas pessoas com deficiência, mas também a idosos, gestantes, obesos, recém-operados e qualquer um que não se sinta suficientemente incluso no espaço urbano.
A acessibilidade na construção civil é importante não só para cumprir a lei e garantir a inclusão social, mas também significa um bom negócio para o negócio, uma vez que investir num edifício acessível significa maior valor agregado ao empreendimento.
O custo será bem menor se a acessibilidade já for levada em conta desde a etapa do planejamento. Sendo assim, o investimento adicional é relativamente pequeno, se comparado à valorização que proporciona.
Você já sabe que a acessibilidade é um tema importante, que não apenas garante um direito humano, mas também cuida da saúde do seu negócio a longo prazo.
Mas, como fazer isso? Como garantir a acessibilidade na Construção Civil?
Para te ajudar a responder essas perguntas, selecionamos 3 maneiras gerais para garantir a acessibilidade na construção civil.
Construir um edifício que seja acessível vai além da construção de rampas para facilitar o acesso aos empreendimentos.
Levando em consideração os preceitos do Desenho Universal, o grande objetivo é respeitar as diferenças existentes entre todas as pessoas e garantir a acessibilidade a todos em um ambiente.
A ideia do Desenho Universal para empreendimentos acessíveis é que qualquer pessoa possa entender e usar o local, de forma simples e intuitiva.
Portanto, o responsável precisa levar em consideração as necessidades das pessoas que utilizarão o edifício: pessoas obesas ou com nanismo, pessoas em cadeira de rodas, acompanhantes com carrinhos de bebê, usuários de bengalas, idosos, crianças e animais de estimação.
Lembrando que mesmo se as estruturas adaptadas forem utilizadas eventualmente, elas ainda precisam fazer parte do edifício.
Não é porque elas não serão usadas diariamente que não serão usadas.
Contudo, algumas diferenças precisam ser levadas em consideração para prédios e espaços construídos para determinados fins, como escolas, residenciais e demais tipos de edifícios.
Elas devem atender a alguns itens básicos da acessibilidade na interligação de todas as partes de uso comum ou abertas ao público – conforme normas técnicas indicadas na cartilha de acessibilidade do Crea:
Um edifício residencial, que também contenha empreendimentos, precisa levar em consideração as áreas de uso comum que devem, obrigatoriamente, oferecer fácil acesso.
Enquanto que, para as unidades habitacionais essa é uma opção facultativa, porém, recomenda-se evitar paredes estruturais que dificultam alterações para futuras adaptações.
Além disso, nos conjuntos residenciais é obrigatório:
No caso de teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte e similares devem reservar pelo menos, 2% da lotação do estabelecimento para pessoas em cadeira de rodas.
Esses espaços devem estar distribuídos em locais diversos, com boa visibilidade, próximos aos corredores e devidamente sinalizados.
Além disso, é obrigatória a destinação de 2% dos assentos também para acomodação de portadores de deficiência visual e de pessoas com mobilidade reduzida, incluindo obesos, em locais de boa recepção de mensagens sonoras, devendo todos serem devidamente sinalizados e estar de acordo com os padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT que dizem:
De acordo com a norma ABNT NBR 9050: 2015, os lugares de passagem dos empreendimentos devem ser completamente livres de interferências como vegetação, postes, armários de equipamentos, orlas de árvores e jardineiras, rebaixamentos para acesso de veículos.
Dessa forma, os obstáculos aéreos como marquises, faixas e placas de identificação, toldos, luminosos, vegetação e similares devem se localizar a uma altura superior a 2,10 m e atender aos seguintes critérios:
Locais destinados às atividades comerciais para atividades culturais, esportivas, financeiras, turísticas, recreativas, sociais, religiosas, educacionais, industriais e de saúde têm instruções específicas de acessibilidade na construção:
Outra maneira, muito importante, para contribuir com a acessibilidade é adaptar todos os equipamentos de modo que eles possam ser utilizados com autonomia por todos.
Para isso, é preciso seguir as especificações da NBR 9050, só assim é possível proporcionar à maior quantidade possível de pessoas seguras no uso de equipamentos.
Já que ela preconiza o trabalho em um ambiente seguro, independente de idade, estatura ou limitação de mobilidade.
A Norma orienta quanto à altura em que cada elemento deve estar, bem como sobre o acesso a eles. Também indica a necessidade de dispositivos de acionamento adaptados, por exemplo, equipamentos como elevadores, torneiras, interruptores, interfones, alarmes, maçanetas, dentre outros.
Para que a obra seja acessível, algumas regras e padrões precisam ser seguidos, um exemplo são as rampas de acessibilidade.
De acordo com as orientações da norma ABNT NBR 9050: 2015, desníveis superiores a 15 mm devem atender aos requisitos de rampas e degraus, a fim de facilitar a circulação de pedestres e pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida:
Se não há essa verificação com a norma citada, o edifício fica inacessível para todos os públicos, fora da lei e incapaz de colher os benefícios que a acessibilidade entrega.
Não sabe quais são esses benefícios? Listamos os principais abaixo.
Acreditamos que ao investir em acessibilidade o que se procura é também um retorno sobre este investimento – seja ele financeiro ou de outro tipo.
A boa notícia é que há frutos a serem colhidos exclusivos para aqueles que decidirem construir com acessibilidade.
A empresa que traz a acessibilidade ao seu negócio faz com que não só os funcionários se sintam motivados, mas, também, clientes e visitantes.
Exemplo disso são as pessoas que usam cadeiras de roda. Para elas conseguirem se deslocar em um determinado ambiente, é necessário um espaço adequado, que não pode ter obstáculos.
Afinal, todo trabalhador tem direito a trabalhar com autonomia, sem a necessidade de pedir auxílio de outras pessoas ao redor para realizar atividades simples.
Edifícios acessíveis atraem investidores conscientes e com o olho no futuro, ou seja, a valorização da estrutura.
Justamente por se tratar de um investimento com amplo mercado, um imóvel que se utiliza de recursos de acessibilidade valoriza-se com maior velocidade e certeza.
Além disso, a acessibilidade na construção civil muito provavelmente se tornará padrão nos imóveis do futuro, pois o debate que passa pelos engenheiros e arquitetos avança dentro das universidades e das construtoras e o clamor por mudanças oriundo dessa parcela da população somente se torna mais alto.
Assim, é seguro dizer que na construção civil é uma forma de se preparar para um futuro que não tarda a chegar.
Imaginem um prédio com 30 ou 40 pessoas com deficiência que trabalham no local todos os dias em todos os andares, porém sem rampas de acesso.
Em caso de incêndio é proibido o uso do elevador, portanto, como as pessoas com deficiência vão sair do prédio?
Sendo assim, equipamentos e estruturas que proporcionam a acessibilidade entregam um ambiente mais seguro ajudando a evitar acidentes.
Assim como todas as áreas da sociedade estão sendo transformadas pela tecnologia, com a construção civil não é diferente, principalmente quando falamos de acessibilidade.
Atualmente existem tecnologias no mercado, continue lendo e descubra quais você pode começar a usar.
Aplicativos de navegação para deficientes visuais, tecnologia de reconhecimento de voz e sinalização eletrônica são ótimos exemplos de inteligências usadas para promover a acessibilidade.
Uma simples e bem famosa é a Amazon Alexa!
Ela é um software por trás de dispositivos da empresa, controlados por voz, com o Echo. O que a torna uma ótima solução para pessoas com deficiência visual.
No contexto de materiais novos que proporcionam a acessibilidade nas construções temos dois principais:
Buscando facilitar a vida das pessoas com deficiência, já existem elevadores inteligentes capazes de reconhecer a voz.
Em caso do elevador estar lotado, ninguém mais precisaria se desdobrar para apertar o botão.
Robôs de assistência pessoal e dispositivos de apoio facilitam a vida de PCDs fornecendo independência para agirem.
Para você ver como é possível construir com acessibilidade, apresentamos abaixo dois exemplos de projeto de acessibilidade.
Seguindo essas regras, a Escola Estadual em Votorantim, em São Paulo, recebeu em seu espaço uma reforma para atender alunos com deficiência visual.
No projeto desenvolvido pelos arquitetos do Grupo SP, foram inseridas placas podotáteis, além de rampas e corrimãos nas áreas comuns para servir de orientação e dar segurança aos alunos.
Uma casa de idosos na Coreia do Sul foi alvo de uma reforma para adaptar-se às necessidades de seus moradores.
Rampas, corrimão e suporte de apoio foram distribuídos nas áreas internas e externas, assim como no jardim do imóvel.
Confira toda beleza desse projeto: Namhae House | Joho Architecture
Em resumo, a acessibilidade é um tema que precisa estar no radar dos engenheiros, arquitetos e da engenharia civil como um todo.
Pois, através dela é possível construir empreendimentos e estabelecimentos acessíveis possibilitando a todas as pessoas, independente das suas habilidades ou necessidades, a chance de estar em espaços e garantir oportunidades.
Além é claro de respeitar e proporcionar o direito humano de ir e vir a todos.
Foi-se o tempo em que acessibilidade era uma opção!
É preciso adaptar e construir com consciência que existem milhões de pessoas e que algumas delas precisam de apoios específicos para conseguirem ter uma qualidade de vida e seus direitos respeitados.
Porém, proporcionar a acessibilidade não é apenas dizer que sua empresa é acessível, é necessário agir através de 3 maneiras básicas gerais: projetar e construir edifícios acessíveis, instalar equipamentos que facilitem a vida de PCDs e verificar se a obra está de acordo com as normas.
Com isso, seu negócio ou edifício consegue entregar benefícios exclusivos como muito mais conforto e acolhimento, valorizar o imóvel a longo prazo e mais segurança em casos emergenciais.
E como adicional, o uso de tecnologias – bem próximas e simples – são ótimas soluções para possibilitar que todos acessem o local e os serviços fornecidos.
Até a próxima.
https://www.globaltec.com.br/2017/07/25/lei-da-acessibilidade-os-impactos-na-construcao-civil/
https://www.vivadecora.com.br/pro/acessibilidade-na-arquitetura/
https://washington.org/pt/DC-guide-to/accessibility-smithsonian-museums#
https://www.lance.com.br/palmeiras/allianz-vira-estadio-america-latina-com-selo-acessibilidade.html
https://www.avilaurbanismo.com.br/arquitetura-inclusiva/
http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=32&Cod=2368
https://www.vivadecora.com.br/pro/acessibilidade-na-arquitetura/